quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

O triste fim de uma história.


 Palacete irmãos Nogueira começa a ser demolido.
Texto: Adriano da Rocha
Fotos: Eduardo Ketelhuth
Funcionários da Usina Ester começaram a demolição na manhã desta quarta-feira, segundo operários as ordens são para que  até o final do mês de Dezembro o Palacete esteja totalmente demolido.
O inesperado e anunciado dia chegou. 
 
  Há meses passados publicamos em nosso perfil no Facebook sobre a suposta e não confirmada demolição do centenário "Palacete irmãos Nogueira" na Usina Ester, a noticia era desconhecida até então por grande parte dos funcionários da Usina, no começo do mês de Novembro a noticia foi oficializada pela direção da Usina em declarados dizeres as nossas constantes indagações de respostas a direção"Sim o Palacete será demolido e nada infelizmente pode ser feito contra isso, as ordens e o consentimento para a demolição são da própria família Nogueira”. No mesmo dia que recebemos a noticia que o Palacete seria demolido publicamos nas atualizações de perfil do Facebook, causando a revolta e a emoção de todos, gerando compartilhamentos e comoção em toda cidade através da triste noticia. Eis que chega o inesperado dia da demolição, dia 21 de Dezembro de 2011, na manhã desta quarta-feira iniciaram-se os trabalhos de demolição do Palacete, que em mais de 100 anos de história era pouco conhecido por muitos cosmopolenses e funcionários da própria Usina Ester.
Fachada do Palacete Irmãos Nogueira, construído no inicio do século passado pelo arquiteto e engenheiro Ramos de Azevedo, a pedido da família Nogueira. Mais de cem anos de história que serão demolidos ainda esse mês.


Com auxílio de um trator foi retirada da cozinha do Palacete um imenso fogão industrial, que para sua passagem foi derrubada um grande pedaço da parede da cozinha.
   No final do mês de Novembro foi feita a remoção dos móveis do Palacete, que na sua grande maioria foram levados para cidade de Campinas. No majestoso Palacete ou casarão como também era chamado, havia muito bem conservados uma infinidade de móveis de madeira de lei vindos da Europa, diversos quadros retratando paisagens da região e pessoas da família, a objetos de arte como esculturas e um grande piano de calda. Pelo tamanho do Palacete e os mais de cem anos de história ainda restam muitos móveis a serem retirados antes da total demolição, os móveis estão sendo guardados em um local reservado e ainda essa semana serão transportados para seus locais de destino. Segundo a direção da Usina Ester poderá ser feita uma exposição com parte dos móveis e objetos do Palacete em local público em 2012, porém nada foi oficializado formalmente junto à prefeitura de Cosmópolis.


Um lustre em bronze de um dos quartos do Palacete sendo retirado por um técnico eletricista , nas paredes os interruptores em porcelana francesa que existiam nas paredes foram todos retirados juntos com os móveis no mês passado.
Imenso buffet francês da cozinha onde eram guardados talheres, panos de prato,toalhas de mesa, e utensílios usados nos almoços e jantares do Palacete.Com mais de 3 metros de comprimento para sua remoção será derrubada uma das paredes de acesso ao cômodo.
      O "Palacete Nogueira" ou "Casarão"  como também era conhecido, sempre foi motivo de curiosidade em Cosmópolis nos mais de 100 anos de história do Palacete. O motivo de tanta curiosidade era que a visitação e o acesso ao majestoso imóvel era restrito, e concedido a pouquíssimas pessoas, e na sua maioria muito íntimas e de total confiança dos donos da Usina. Até mesmo a limpeza realizada nas últimas décadas de existência do imóvel, era feita mensalmente por uma empregada que vinha da cidade de Campinas, a manutenção e eventuais consertos os serviços eram feitos por profissionais  também de Campinas que prestavam serviços a família que reside em Campinas desde a fundação da cidade das andorinhas com a participação de muitos de seus ancestrais. Todo esse zelo, e digamos também desconfiança faziam crescer ainda mais a curiosidade do povo em conhecer o imóvel, freqüentado pelos proprietários nos finais de semana e feriados. Segundo o ex-funcionário da Usina Ester e motorista particular dos NogueiraAurélio Garcia (86 anos), em mais de 40 anos de serviço o máximo que entrava era na cozinha e no salão social para deixar malas de viajem e compras. Segundo Aurélio Garcia, os Nogueira sempre tratavam todos com muito respeito e educação, porém eram muito reservados na intimidade do lar, mais a segurança feita no casarão junto com a desconfiança surgiram depois de um roubo que aconteceu na década de 50 no Palacete, segundo nos relata Aurélio: 

"Um dos chefes nomeados pelos donos da Usina, usava da intimidade com os chefes e o acesso ao casarão, para roubar vinhos e outras bebidas da adega dos Nogueira, assim como queijos, presuntos, salames e outros alimentos da despensa, que era muito farta. Ouve uma denuncia e os próprios donos pegaram o gatuno com o carro da Usina cheio de coisas roubadas. Descobriu-se que ele tinha até mesmo freguesia fixa para a venda dos produtos, com lista de encomendas e tudo mais. O porão onde ficava a adega, tinha de vinhos portugueses e franceses de safras diversas, grandes peças de presunto, salame e queijo. O mercadão de Campinas pertencia à família, então vinha de caixas e mais caixas de produtos ao palacete, por isso que não sentiam falta dos produtos roubados. Depois do ocorrido somente os Nogueira e a cozinheira tinham as chaves do Palacete, e essa desconfiança e receio permaneceu com o passar dos anos. A última vez que estive no Palacete como empregado da família foi em 1965, anos depois na época do golpe militar ficou durante muito tempo escondido no Palacete o governador Carvalho Pinto, que se escondia do governo militar e encontrou na Usina um exílio forçado para não morrer ou ter que sair do Brasil. Tem muita história aquele lugar, é triste a falta de respeito com a memória de nossa cidade, e mais triste ainda saber que se vai derrubar um Palacete luxuoso como aquele para se guardar bagaço de cana no terreno”. Finaliza indignado com a notícia da demolição.

Abaixo veja fotos de como era o majestoso Palacete na sua parte interior:




Antigo medidor de energia da "Companhia Paulista de Electricidade", década de 30.


Piso hidráulico contrasta em diversos modelos nas áreas externas e internas do Palacete.








Em uma reforma feita na década de 70 os azulejos Franceses,pastilhas e pisos dos banheiros,  foram todos trocados.Os objetos retirados foram levados na época para uma casa da família na capital São Paulo.


Lavanderia e acesso aos quartos dos empregados.





Entrada principal do Palacete.




Parte superior do Palacete aonde de seu alto podia se ver toda as instalações da  Usina Ester.


    A demolição do centenário Palacete Nogueira segundo a direção da Usina Ester, faz parte de um projeto de ampliação  da área do armazenamento de bagaço de cana de açúcar, e com o aumento da produção e o crescimento da Usina a demolição do Palacete apenas foi sendo adiada com o passar dos anos, já que as demais casas de fiscais e gerentes que ficavam próximas ao Palacete foram derrubadas à anos para no local ser feito o armazenamento do bagaço de cana de açúcar das safras. No final da década de 90, foram derrubados as casas do diretor executivo e fiscal geral, ambas construções também imponentes e localizadas próximas ao Palacete.Também no mesmo ano da demolição das casas do diretor e fiscal, grande parte do terreno do Palacete foi diminuída, o enorme jardim que cercava a construção foi cimentado e as voltas do Palacete cercadas por muros. O ex-funcionário da Usina Ester, hoje aposentado, Antônio Padilha (76 anos), relembra quando na década de 50 ajudava na jardinagem do Palacete, e emocionado depois de saber da demolição nos relata um pouco de sua história na história do Palacete Nogueira: 
 "Igual a muitos colonos da Usina Ester, cheguei  com minha família vindo da Usina Cresciumal em Leme-SP, na década de 40. Fiz de tudo na Usina Ester, trabalhei no corte de cana, de motorista, a escrivão no escritório, somente sai da Usina na década de 60 quando entrei na Rhodia aonde me aposentei. As lembranças que tenho do Palacete são várias, porém nunca tive a felicidade de entrar nas partes do Palacete onde moravam os donos, o máximo que nos permitiam e isso poucas pessoas, era a entrada na enorme cozinha do Palacete que ficava aos fundos junto as dependências dos empregados. Ajudei na jardinagem com meu irmão, quando na época o jardineiro por nome "Nirso" ficou doente. Os jardins cercavam o Palacete, e o jardim era todo projeto, existia uma grande caixa d'água que abastecia o Palacete e fazia a irrigação do  jardim, que tinha duas grande fontes e nos fundos um lindo bebedouro ornamentado com anjos e um enorme leão que vertia água. No jardim existiam de rosas de variadas cores, a flores de várias espécies, e nos fundos o xodó dos chefes um grande orquidário. Lembro também que no porão do Palacete existia uma fantástica adega de vinhos, Whisky e cachaça, depois de um roubo que aconteceu na adega nem mesmo a cozinheira tinha a chave daquele tesouro, que somente era aberto por eles nas ocasiões especias de festas ou jantares. Poderia muito bem ser feito um museu da Usina no local, tenho certeza que toda cidade tinha a curiosidade de conhecer o Palacete, quanta gente que nasceu e morreu com essa curiosidade".Finaliza emocionado.

Abaixo fotos dos porões, jardins e dependências dos empregados.
Entradas de acesso aos porões do Palacete, onde eram guardados alimentos como queijos,salames e presuntos, e também era utilizado como adega de vinhos e outras bebidas.

Entradas dos porões do Palacete, algumas das saídas de ar foram fechadas em uma antiga reforma na década de 60, e na mesma reforma retirados os azulejos Franceses que revestiam as passarelas e colunas. O Jardim também foi totalmente cortado e grande parte cimentado.
Parede da cozinha do Palacete derrubada para retirada de móveis e um enorme fogão.
Mosaico de piso hidráulico contrastava com pilares de madeira maciça, esse local fazia parte das dependências dos empregados  era um dos poucos onde era permitida a entrada a pouquíssimos funcionários da Usina.
Saídas de ventilação e iluminação dos porões do Palacete Nogueira.
Entrada dos funcionários e acesso também aos porões do Palacete.


Jardim totalmente destruído, fontes,orquidário e bebedouro foram retirados ainda na década de 60 em uma reforma feita na época. A parte do Palacete onde está o funcionário na foto, era a cozinha e os quartos dos empregados, na antiga reforma   as telhas  francesas foram retiradas e substituídas por telhas brasilite.
Por uma das janelas do Palacete, a visão do que ainda restou do famoso jardim do Palacete Nogueira.Totalmente abandonado ao tempo, e pela falta de jardinagem suspensa a na época para a contenção de despesas.
Muros que cercavam o acesso ao Palacete, ao fundo pode se ver a chaminé da Usina e ao lado a caixa d'água que abastecia o Palacete e também os escritórios da gerencia da Usina Ester.
   O Palacete com seus mais de cem anos de construção, ainda possuía toda sua estrutura intacta, pequenas rachaduras existiam em algumas paredes devido ao intenso fluxo de caminhões de grande porte carregados que transitam próximos ao local onde "existia" o Palacete. O madeiramento do Palacete em toda sua extensão, das colunas, forros, assoalhos, portas e guarnições como também escadas estava em perfeito estado, evidentemente como será visto em fotos logo abaixo necessitavam de uma nova reforma para a manutenção devido aos anos de uso dos materiais, sendo que a última reforma foi feita no final da década de 60. Nesta última reforma feita, foram retirados pisos de mármore e hidráulicos que existiam em alguns cômodos, substituídos por assoalhos de madeira e pisos de cerâmica. Na reforma foi feita novamente a parte elétrica do Palacete, antigos lustres e arandelas que existiam no imóvel foram retiradas e instaladas iluminarias simples de cúpula de vidro ou somente a lâmpada. A reforma na época foi feita por funcionários da Usina, nesta semana estivemos com um dos remanescentes da equipe de pedreiros, o funcionário da prefeitura aposentado Manoel Gonçalves (76 anos), conhecido pelos amigos por Nêca. Inconformado com notícia da demolição do Palacete, Nêca até tentou ir ao local, mais por ser um lugar de acesso restrito foi impedido por funcionários da Usina Ester. “Em palavras emocionadas de quem nasceu na Usina, e faz parte de umas das primeiras famílias de colonos da Usina, Nêca faz seu depoimento sobre o Palacete Nogueira:


 ” Eu nasci na Colônia do Saltinho, meu pai também nasceu por aquelas bandas. Na Usina nasci, cresci e trabalhei mais de 40 anos da minha vida, trabalhei de motorista de trole (nome Paulista dado as antigas carruagens com vários acentos), onde meu serviço era levar professores da Usina para as colônias que havia turma de alunos, durante anos esse era meu serviço que comecei com 13 anos de idade. Quando já era moço comecei a trabalhar de ajudante de pedreiro e depois com a experiência dos anos pedreiro. No final da década de 60, meu último serviço na Usina antes de sair e entrar na prefeitura, foi à reforma do Palacete, ficamos mais de quatro meses na reforma. A minha turma ficou nesses quatro meses basicamente retirando os azulejos do Palacete, eram todos Franceses e revestiam os banheiros, cozinha e na parte de fora do Palacete eram revestidos por azulejos os pilares e acessos das varandas. Esses azulejos eram de um material  muito fino e delicado, um senhor de São Paulo acompanhava todo serviço e contava todos os azulejos, a quebra de qualquer um ou a danificação era descontado do nosso salário, tinha muito azulejo por todo aquele Palacete, anos depois fiquei sabendo que aqueles finos azulejos de porcelana eram vendidos a preço de ouro. O jardim nessa época foi todo cimentado, e as fontes feitas de pedra foram as que mais trabalho nós deu, para retirada por causa do peso fora do normal. Lembro que existiam também uns imensos leões na entrada do Palacete, os vasos de mármore que ficavam no alto dos portões, deram uma briga danada entre os donos na disputada para quem ia ficar. Todo o material de ornamentos do Palacete era na sua maioria vindo da França, os tijolos e madeiramento vieram todos da capital. Na minha infância e mocidade era o sonho de muitos colonos e gente da cidade conhecer o Palacete, quando eu falava que estava trabalhando lá dentro ninguém acreditava. Quando derrubaram as casas do Ebeling e do Guilhermino (chefes da Usina que tinha suas casas próximas do Palacete) para no lugar guardar bagaço, na época foi falado que o Palacete seria o próximo, mais ninguém na cidade pensava que os donos da Usina teriam coragem de fazer isso, bem foi feito e demonstra bem o amor que eles têm pela história de Cosmópolis e por nossa cidade". 



Entrada de fiação de energia, o Palacete foi um dos primeiros da cidade e a usar os serviços da "Companhia Paulista de Electricidade"

  A demolição iniciada nesta quarta-feira começou a ser feita com a remoção das várias janelas, portas e ornamentos de madeira que revestiam o Palacete em seu exterior, e para mais fácil acesso e segurança nos trabalhos foram derrubadas algumas paredes para retirada de móveis e utensílios da cozinha. Segundo a direção da Usina Ester a total demolição do Palacete será feita ainda nessas últimas semanas do mês de Dezembro, e havendo algum imprevisto no máximo será concluído ainda na primeira semana do mês de Janeiro. Com a demolição do Palacete, cerca de 1500 metros que faziam parte da construção e jardins do Palacete serão utilizados já na primeira safra de 2012 para o armazenamento do bagaço de cana de açúcar. O bagaço de cana de açúcar é utilizado na produção de energia elétrica nas Usinas de todo o Brasil, e é chamado por Usineiros como "sucroenergético", ou seja, tudo é aproveitado e vira dinheiro e bons lucros. Na Usina Ester esse bagaço é utilizado na produção de energia consumida nas dependências da usina, e outra parte de deste bagaço de cana de açúcar é vendido para indústrias de aglomerados para fabricação de móveis e a indústrias de ração animal. A demolição do Palacete estava em estudos desde a década de 90, nesta mesma época foram derrubados outros casarões de igual importância histórica que ficavam próximos ao Palacete, os casarões Ebeling e Guilhermino Nogueira como eram conhecidos pelo povo cosmopolense. O Palacete foi construído em uma posição estratégica para o fácil acesso a Usina e para observar e fiscalizar a mesma pelos donos, do ponto mais alto do Palacete podia se ver toda a Usina e até mesmo a cidade de Cosmópolis. Com o crescimento da Usina e o aumento da produção o Palacete se tornou um obstáculo já na década de 60 no escoamento da produção, e acabou sendo inevitável sua demolição no ponto de vista da administração da Usina que em menos de 20 anos já demoliu grande parte de suas construções históricas, segundo as diretrizes da empresa essas demolições são necessárias para aumentar a produção e seguir o progresso industrial.


Conheça a História do Palacete Irmãos Nogueira.

25/01/1926...Palacete irmãos Nogueira, na sacada do imóvel  Paulo de Almeida Nogueira e os filhos Paulo Nogueira Filho e José Paulino Nogueira.
    A construção do Palacete Irmãos Nogueira pode-se dizer que começou junto com a construção de Cosmópolis, e essa história se mistura junto à da cidade de Cosmópolis e com a História do Estado de São Paulo muitas vezes, foi símbolo de poder e industrialização de toda uma região, no Palacete acordos foram assinados e firmados, foi posto de comando das tropas Paulistas na revolução constitucionalista de 1932, serviu como "exílio'' político no regime militar  do "Estado novo" e do golpe de 1964, foi refúgio e esconderijo de intelectuais e políticos da época perseguidos pelos governos autoritários dos regimes. Fatos como esses  facilmente poderiam ser mais que fundamentais para o tombamento pelo poder público, isto preservaria essa história e este patrimônio histórico vivo para futuras gerações. Infelizmente o Palacete demolido era um dos poucos imóveis históricos existentes em Cosmópolis, e com certeza de palavra tristemente "era'' o único  imóvel que representava a importância  histórica de Cosmópolis dentro da história do Estado de São Paulo. Sua importância histórica destacada acima, se torna ainda maior e singular devido ao seu construtor, um dos maiores arquitetos e engenheiros do Brasil e do mundo, o Paulista Francisco de Paula Ramos de Azevedo, mundialmente conhecido por obras como o Teatro Municipal de São Paulo, Pinacoteca Paulista, Escola Politécnica, Liceu de artes e ofícios, a Catedral de Campinas, o Mercadão Municipal de Campinas, entre tantas outras obras arquitetônicas que destacavam Ramos de Azevedo como um dos maiores símbolos da arquitetura no mundo. 

Arquiteto e engenheiro Ramos de Azevedo (Nasceu em São Paulo em 08/12/1851 e faleceu em 01/08/1928 )
   O arquiteto e engenheiro Ramos de Azevedo era Paulista de São Paulo, chegou à crescente Campinas-SP em 1872 junto com os trilhos da "Companhia Paulista de estradas de ferro" (Cia Paulista de Trens), os trilhos de ferro ligavam Campinas á Jundiaí, e colocavam a cidade em contato direto com o porto de Santos-SP  facilitando o transporte das sacas de café, o "ouro verde" da época e principal produto de Campinas. Ramos de Azevedo trabalhava como engenheiro civil da  "Cia Paulista", e participou na construção da "Estação ferroviária de Campinas" e das primeiras estradas de ferro do Brasil, em 1875 deixa Campinas viajando para Bélgica onde concluiu faculdade de arquitetura e urbanismo. Volta para Campinas onde se fixa definitivamente em 1879 formado-se  em uma das maiores e mais conceituadas faculdades da Europa, a "Universidade Gand" da Bélgica, recebe inúmeros projetos sendo um dos mais importantes o término da construção da Catedral de Campinas. Na cidade realizou diversas construções para os barões do café, foi uma das figuras mais importantes na modernização de Campinas, caracterizando a cidade na virada do século 18 como uma das mais lindas do Brasil e símbolo de poder no Estado de São Paulo. A amizade de Ramos de Azevedo com a família Nogueira é notória na história da família e do celebre engenheiro, sendo essa amizade responsável por colocar-los lado a lado em feitos como a abolição da escravatura e proclamação da república, quando junto com integrantes da família Nogueira fundou a "Loja Maçônica Independência" , uma das mais importantes e conceituadas do Brasil. A "Loja Independência" nasceu republicana contra a monarquia, e entre seus integrantes ilustres iluminados como Francisco Glicério, José Paulino Nogueira, Campos Salles, foram figuras fundamentais na proclamação da república no Brasil em 1889. No inicio da década de 90 em uma das reuniões da Loja, recebeu o convite dos irmãos Nogueira para participar da criação da "Companhia de estradas de ferro Funilense", Ramos de Azevedo já tinha grande experiência no ramo e aceitou o convite, em 1895 surgiram às primeiras estações, e coube ao arquiteto e engenheiro a construção da sede da companhia o futuro Mercadão Municipal de Campinas, na época inicio do século 20 sede da "Cia Funilense" e deposito da "Cia Nogueira agrícola" presidida por Luis Nogueira.
Sede e depósito da "Cia agrícola Nogueira" e futuro Mercadão de Campinas  inaugurado em 12 de Abril de 1908, projetado por Ramos de Azevedo. Na foto acima o trem que chega no mercadão, pertence a "Cia Funilense" e vinha da Villa de Cosmópolis então distrito de Campinas.
  No momento que Ramos de Azevedo aceitou o convite dos Irmãos Nogueira, começava a surgir Cosmópolis das terras do pasto do fundão e Fazenda Funil. A importância  e fama de Ramos de Azevedo, fez com que no final do século 19 ele cria-se um escritório na capital de São Paulo, surgia o  "Escritório F. P. Ramos de Azevedo e Cia", com inúmeros arquitetos e engenheiros trabalhando em conjunto com Ramos, como  os arquitetos  Ricardo Severo e Dumontt Villares. Em 1905 é inaugurada em Cosmópolis a Usina Ester, sendo o projeto do engenho central (como era chamado na época a Usina) um projeto do escritório de Ramos de Azevedo. Como era costume na época Ramos de Azevedo criou o projeto e a supervisão da obra coube ao também consagrado  arquiteto Dumontt Vlllares, que na construção da Usina chegou a residir na "Villa de Cosmópolis". A obra feita por colonos italianos e mão de obra local, foi realizada pela "Construtora Demoulin" de São Paulo e foi iniciada em 1899, e oficialmente inaugurada em 29/11/1905.
29/11/1905..Inauguração oficial da Usina Ester, nesta foto os irmãos Nogueira donos da Usina Ester junto com autoridades da época , no centro da foto de terno branco e chapéu o engenheiro Dumontt Vilarelles arquiteto e membro do escritório de engenharia Ramos de Azevedo responsáveis pelo projeto da Usina.


    Anos depois da inauguração da "Usina Esther" em 1908, a presidência do grupo é assumida por Paulo de Almeida Nogueira, visionário e com novas idéias foi o criador do projeto das primeiras colônias da Usina Ester feitas em alvenaria, (na época grande parte das casas de colonos eram de madeira) o projeto criava as colônias de alvenaria e junto às casas um grande espaço (quintal) para o plantio de alimentos e criação de animais de pequeno porte para alimentação, como porcos e frangos. Em 1909, Paulo de Almeida Nogueira e o Major Artur Nogueira contratam o engenheiro Ramos de Azevedo e seu escritório para a construção da nova casa dos Nogueira na Usina Ester, existia uma pequena e modesta casa feita no inicio dos desbravamentos das terras da Fazenda Funil, e aquela pequena casa não comportava as constantes visitas de importantes figuras públicas como presidentes, senadores, ministros, secretários e Barões que visitavam a Usina que já surgia como uma das maiores e mais modernas do Brasil na época. Com projeto oficial de Ramos de Azevedo, começa em 1909 a construção de uma das construções mais luxuosas da região, e símbolo de status e poder da família Nogueira junto a Usina Ester. Os matérias da construção na sua grande maioria vieram da Europa, como vitrais, mármores, as louças dos quatro banheiros, os azulejos Franceses, as grades e proteções em ferro forjado, as fontes e os leões, entre outros materiais extremamente requintados e de alto valor. O madeiramento e tijolos vieram todos da capital Paulista, aonde Ramos de Azevedo era proprietário de Olarias e carpintarias, e todos seus projetos utilizavam os produtos das mesmas nas quais ele era proprietário. Em 1912, um grande ciclone passou nas terras da Usina Ester, destelhando e destruindo grande parte da construção do Palacete, e também destruindo várias colônias como na época a colônia do ranchão que teve suas casas totalmente arrasadas pelo ciclone. Em Novembro de 1914, depois de vários contratempos o Palacete é oficialmente inaugurado com uma fantástica festa que reuniu diversas autoridades, próximo ao Palacete até mesmo foi construído um coreto para em dias de festa como o da inauguração pudesse ficar a "Corporação Musical da Usina Ester". As comemorações de inauguração tiveram a presença do arcebispo de Campinas Monsenhor Antônio Pereira Reimão, que realizou a benção do Palacete, em seguida para convidados ilustres foi realizado um grande almoço no Palacete.

1926...Paulo de Almeida Nogueira, Ester Nogueira e Paulo Nogueira Filho, no Palacete Irmãos Nogueira.
   No Palacete Nogueira passaram de Barões do Café a presidentes do Brasil, foi um ponto de encontro de intelectuais na década de 20, e nessa mesma década no Palacete se reuniam na crise de 1929 diversos fazendeiros buscando caminhos para não ir a "total falência" gerada pela crise mundial que fez o estado de São Paulo perder o posto de maior produtor de café do Mundo devido a falência de muitos de seus Fazendeiros cafeeiros, que com a crise que dominou os E.U.A e grande parte da Europa não tinham para quem vender suas colheitas, a crise Mundial  não apenas arruinava cafeicultores mais também muitos Usineiros de todo o Brasil . No inicio da década de 30, fazendeiros, políticos e a alta aristocracia Paulista da região se reuniam novamente no Palacete em segredo contra o governo do ditador Getúlio Vargas, culminando em 1932 na "Revolução constitucionalista de 9 de Julho". A família Nogueira na "Campanha do ouro para o bem de São Paulo", fez diversas doações de bens em ouro e prata, que eram vendidos pelo governo Paulista para financiar as tropas revolucionarias constitucionalistas. Em Cosmópolis o Palacete servia como ponto das tropas Paulistas  para o recolhimentos das doações, que eram feitas em dinheiro, ou até mesmo doando as alianças de matrimonio para financiar o armamento e demais despesas da guerra pela nova constituição e contra o governo Vargas.
1938...Família Nogueira e autoridades públicas da época em um jantar no Palacete. Na fotos a terceira senhora vestida de preto e cabelos grisalhos é Dona Ester Coutinho Nogueira e a ao seu lado Paulo de Almeida Nogueira seu esposo, e próximos rodeando os pais os três filhos do casal  os irmãos Nogueira.
01/11/1933..Diretoria da "Associação esportiva e musical Usina Ester" em uma reunião no Palacete Irmãos Nogueira.
  Em mais de 100 anos da construção do Palacete à sua demolição nesta quarta-feira dia 21de Dezembro de 2011, não faltam histórias sobre o local que por muitos colonos, funcionários da Usina e cosmopolenses em geral era um local pouco conhecido e somente visitado por poucas pessoas do circulo social dos donos do Palacete, que sempre foram muito reservados na sua vida pessoal e por isso o acesso era restrito até mesmo a chefes da Usina. O Palacete teve sua última grande reforma no ano de 1964, onde foram construídos novos banheiros e retirados todos os antigos azulejos franceses que revestiam os banheiros e parte das áreas exteriores, alguns salões os pisos hidráulicos em mosaico foram substituídos por pisos de madeira e cerâmica vermelha , e com o passar doa anos e o crescimento da Usina Ester os jardins do Palacete, assim como as cocheiras de cavalos e garagem dos carros, foram sendo invadidas pela Usina, e nos últimos anos de vida do Palacete já não existia  nem mesmo o Jardim que chegou a ter dois jardineiros fixos trabalhando e era orgulho de Dona Ester Nogueira e seus filhos na década de 30. Nesta mesma reforma foi fechada a Rua que passava em frente ao Palacete, e derrubado um coreto que existia também próximo a entrada do imóvel, onde se apresentava a "Corporação Musical da Usina Ester". Na década da reforma no final dos anos 70, nos chamados anos de chumbo em que o Brasil era comandado pelo governo militar, o Palacete serviu de exílio para um importante político da época e grande amigo da família Nogueira, o ex governador Carvalho Pinto. Perseguido pelo regime militar o professor Carvalho Pinto, teve no palacete um refugiu junto com sua família para não ser exilado para fora do Brasil, sempre muito reservado o ex governador fixou residencia no Palacete durante meses, e pouquíssimas pessoas sabiam da sua instalação no imóvel até mesmo nos dias de hoje. Sempre muito reservado fazia caminhas pelas ruas das colonias nas manhãs ao lado de sua  esposa e alguns seguranças que o seguiam de longe. O ex governador além de grande amigos da família Nogueira era partidário dos mesmos nas campanhas para deputado e governador do Estado de São Paulo, em que José Bonifácio Coutinho Nogueira  se candidatou várias vezes, porém concorrendo contra políticos como Adhemar de Barros Jânio Quadros, sempre ficava entre os últimos nas votações devido os prestigio e fama dos mesmos.
1962 – O Professor Carvalho Pinto, governador do Estado de São Paulo faz comício em Catanduva apoiando José Bonifácio. O jipe desfila pela Rua Brasil e na foto tirada defronte a Loja “A Principal Magazine” aparece o deputado Estadual Antonio Mastrocola, o governador Carvalho Pinto, o candidato José Bonifácio Coutinho Nogueira e o motorista Alberto Canonici.
   O tal progresso, a falta de respeito a memória e história cosmopolense podem ser os culpados a esse crime a história da cidade de Cosmópolis e a história do Estado de São Paulo. O certo ou errado de tudo isso é que ainda no mês de fevereiro o local já servira como deposito de maquinas e armazenamento do bagaço de cana de açúcar, no local nada mais existira a futuras gerações para saberem da grandiosidade e importância do Palacete que aquele solo abrigou, esperamos que ao menos através de histórias escritas e fotos como que aqui fizemos nesse registro no blog, este Palacete ainda possa ser lembrado e sua memória perpetuada então, infelizmente somente assim em escritos e fotos hoje essa história pode ser conhecida e lembrada por todos. Finalizo essa postagem matéria com os disseres: 
 "Aqui jaz o Palacete Irmãos Nogueira novembro de 1914 /  21 de Dezembro de 2011, saudades daqueles que um dia cresceram e sonharam em um dia te conhecer, lembranças e histórias daqueles que te conheceram estas nunca serão derrubadas ou esquecidas".




Texto e pesquisa: Adriano da Rocha
Fotos: Eduardo Ketelhuth
Entrevistados: Aurélio Garcia, Antônio Padilha e Manoel Gonçalves (Nêca)
Fotos de Acervo: Acervo Adriano da Rocha, Acervo Usina Ester, Acervo família Nogueira e criação de arte Compadre Ancermo (foto Ramos de Azevedo).

7 comentários:

  1. Os Nogueiras nunca se importaram com Cosmópolis. O interesse sempre foi o de manter a cidade como colônia, objeto de exploração. As provas têm séculos de história e se mantêm.

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  2. Olá, Adriano!
    Vamos habilitar link para este maravilhoso site sobre nossa Cosmópolis de sempre. Parabéns! Edson Leite

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  3. É UMA TRISTEZA UMA CIDADE NÃO PRESERVAR SUA HISTÓRIA, COSMÓPOLIS SE DÁ O LUXO DE DESTRUIR OS REGISTROS SÓLIDOS QUE MARCOU A VIDA DE MUITA GENTE. COSMÓPOLIS SEM MEMÓRIAS

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  4. Entrei neste casarão num dia histórico para mim. Eu trabalhava na Prefeitura e fui convidado pelo Paulo Nogueira, o primeiro executivo federal na área ambiental, para um encontro com seus alunos e mais alguns convidados. Entre eles, estudantes da USP, estava o Amir Klink.
    Quando saímos para um passeio, Paulo Nogueira disse para eu me sentar a seu lado. Sou testemunha (e não me importo se alguém duvida de mim) da sua decepção ao ver os estragos que os administradores da Usina Ester faziam já naquele início dos anos 90. Disse-me que, por ele, as terras da Usina seriam uma mata só. Mas, os outros sócios e descendentes tinham outra cabeça.
    Para quem não tem conhecimento do que foi seu trabalho na Secretaria Nacional do Meio Ambiente (creio que o nome era este), o primeiro ato de Paulo Nogueira Neto foi a transformação do Matão em reserva ambiental.
    Pelo estilo submisso que, a meu ver, tomou conta dos cosmopolenses, qualquer dia transformam o matão em mais uma touceira de cana de açúcar.
    http://www.dospires.com.br/heranca_ambientals.html

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  5. Sou natural de cosmópolis, a família de minha mãe esteve sempre aqui, a do meu pai veio um pouquinho depois.
    Ver isso tudo me faz pensar que cada vez mais as pessoas deixam de educar seus filhos para futuras gerações.

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  6. Falta de respeitoso dos filhos dia dono da Usina com o passado da família

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  7. Até eu que cheguei em Cosmópolis em agosto de 1996, lendo a historia me senti dentro do palacete como se eu tivesse vivido ali nos anos de 1926.
    Pena que se não tivessem demolido, poderia ser um ponto turístico da cidade.

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