quinta-feira, 20 de outubro de 2011

DESCASO COM O PASSADO.

       Centenário casarão é demolido para dar lugar a pousada.
Texto: Adriano da Rocha
Fotos:Andrei Manita 
Em demolição depois da venda pelos proprietários para construção de uma pousada no local.
 Umas das poucas construções que ainda restava dos tempos da "Estrada de Ferro Funilense" está sendo demolida essa semana na cidade, o "Casarão redondo", no local  será construído uma pousada para funcionários da Petrobras de Paulínia. A demolição chama atenção de todos que passam pela Rua João Aranha, onde a mais de cem anos existia o majestoso casarão. 
As várias janelas que davam destaque na arquitetura da casa,estão cobertas entre os entulhos .

Fachada totalmente coberta de entulhos 

Casarão redondo em demolição na Rua João Aranha, causa a tristeza de muitos que passam na rua.

  A "casa redonda" como era conhecida por muitos na cidade, é uma construção dos áureos tempos da estação de trem Sorocabana (demolida na década de 70), estação essa que ficava na frente do casarão, local onde hoje existe a "praça" do "Relógio do Sol". O casarão moderno para os padrões da época foi construído no inicio do século passado para uma família de Alemães, que chegava à cidade em busca do progresso do então distrito pertencente a Campinas, que crescia a cada dia sobre as margens da estrada de ferro e da indústria agrícola da cana de açúcar e das tecelagens. A construção criada no estilo "neoclássico" era uma referência em Cosmópolis dos tempos da estação de trem e principalmente na história do "Bairro da Barroquinha”, nome dado ao lugar por existir um grande barranco de terras que foi aberto pela Companhia Funilense em 1896 para a passagem dos trilhos dos trens  da estação inaugurada em 18/09/1899 pela “Cia Agrícola Funilense” (estação inaugurada com o nome de Barão Geraldo, nome de Cosmópolis até 1905).

Vista do casarão no alto da praça Major Artur Nogueira (Praça do Coreto).

Rua João Aranha nº 391,ficará na lembrança de muitos filhos da terra.
 
  Nos mais de 100 anos de história do casarão vários proprietários passaram pelo imóvel, foi casa de subprefeitos da cidade nos tempos de distrito de Campinas, foi escritório de uma "grande tecelagem" da cidade que ficava ao lado do casarão (onde hoje funciona uma loja de roupas) sendo casa do proprietário da indústria e sua família. No casarão passaram diversas famílias conhecidas da cidade,no quarto central do casarão muitas crianças nasceram pelas mãos de parteiras como a famosa Guilhermina Kowalesky, e também do Doutor Nicolau Nolandi. Era costume antigamente na cidade fazer os partos em casa, e nos casos mais graves ou mais difíceis com a ajuda de um chofer de praça o parto era feito no distrito de Barão Geraldo, onde surgia o centro médico.
Poucas janelas ainda restam inteiras, as janelas que acompanhavam o formato da casa pertenciam a sala da casa e o escritório.
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 A estrutura original ainda estava "totalmente intacta", mesmo com as diversas reformas feitas durante as passagens de donos e inquilinos se manteve o estilo original da construção. Nos tempos da construção do casarão os jardins das casas eram nos fundos e nas voltas da casa, na década de 60 os proprietários mantiveram o jardim dos fundos e criaram mais cômodos ao lado da casa, onde era uma tuia, (uma espécie de deposito muito usado nas casas Paulista antigas). Nos fundos ainda existia um poço desativado e um velho rancho onde se recolhia os cavalos usados nos troles e charretes dos antigos proprietários.O casarão também possuía um porão (como se fosse um andar subterrâneo embaixo da casa), o grande porão era usado antigamente para se guardar mantimentos, lenha e objetos de uso dos donos da casa.
Uma das saídas de ar do porão do casarão, uma das poucas não cobertas por entulhos da demolição.

 Abaixo algumas fotos antes da demolição.

Escola Pro-Ensino durante anos foi locatária do casarão redondo...foto acervo Odair Camargo.
Hoje as fotos da escola que a meses atras eram consideradas atuais,hoje já são parte de um acervo do passado.
Foto acervo Odair Camargo
 Antes da venda e demolição do imóvel, o casarão esteve alugado para uma escola de cursos e supletivos durante anos, ensinando e formando diversos alunos no casarão em que nos seus vários cômodos funcionavam as salas de aulas, e nos fundos a aérea de lazer dos alunos. A escola reformou diversas vezes o casarão,mais sempre mantendo a construção original, realizando reparos e pinturas que preservavam o antigo casarão.Em nosso Facebook o ex inquilino Odair Camargo, dono da escola que durante anos manteve sede no casarão desde a década de 90, deixou um comentário emocionado sobre uma postagem feita sobre a demolição do casarão:
"Lutamos para que se mantivesse o prédio e a história de cosmópolis, mas a resposta de nossas autoridades foi: "Não temos dinheiro para investir nesse imóvel", segundo o antigo proprietário nos dizia. Porém para se investir em shows que durão em média 1:30h de diversão para isso se encontra dinheiro. Patrimônio histórico e cultural só fica gravado na memória e nas fotos em Cosmópolis. Somos um povo sem passado, ou melhor, temos os tijolos jogados ao chão! Isso é Cosmópolis!" 



  O casarão sempre chamou atenção de todos que passavam pela Rua João Aranha, fosse indo para Limeira, Artur Nogueira ou simplesmente por passar na movimentada rua próxima a praça. Sua imponência e elegância,deram lugar a centenas de quilos de entulhos da sua demolição espalhados pelo local que foi um dos casarões mais admirados por seu passado e arquitetura,fazendo parte da memória cosmopolense.Mesmo com a importância histórica para a cidade de Cosmópolis,nada foi feito pelos órgãos públicos e demais autoridades para a preservação do casarão centenário.Pela localização do casarão em uma das principais ruas da cidade,a demolição e o descaso com a história da cidade é vista aos olhos de uma grande parte da opinião publica que não ignoram a questão.Muitos comentários de indignação foram feitos durante toda a semana sobre o assunto em diversos perfis de redes sociais.Em nossa pagina e no perfil do Facebook inúmeros comentários foram feitos,em todos a indignação e a revolta é clara,aonde estão nossas autoridades?O que faz realmente a secretária de cultura em Cosmópolis? 
  Realmente é muito triste para todos que amam, e prezam por Cosmópolis ver isso acontecer. Esse ano foi demolido o "Cine Teatro Avenida" e nada foi feito para impedir tamanho desrespeito com a história da cidade, enquanto isso se gastava um bom dinheiro com ditos projetos culturais” de cinema e curta metragem, certa ironia até, enquanto era derrubado o cinema eram feitas amostras de filmes em um salão improvisado. O tal progresso e a ganância imobiliária juntos com a falta de capacidade política mais uma vez estão levando consigo a história de Cosmópolis.




 GRUPO FILHOS DA TERRA.

Um comentário:

  1. Olá! Tudo bem?
    Você sabe me informar quando e quem idealizou e construiu o relógio solar da Praça Major Artur Nogueira em Cosmópolis-SP?
    Desde já agradeço.
    Abraço.

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